Do Medium
Wyliam Vassoler
Como a publicidade e a televisão foram fatores importantes na alienação da sociedade americana pós-guerra
Acabei de ler uma parte do livro Quatro argumentos para acabar com a televisão,  do escritor Jerry Mander, disponível em português de Portugal. Li  apenas o segundo argumento, mas já foi o bastante para entender um pouco  do processo capitalista que envolveu a América desde a década de 30 até  os dias atuais, se espalhando por todos os outros países emergentes  contemporâneos. E o que eu tenho a dizer é que tudo isso é muito  assustador.
A teoria da conspiração
Alguns dados apresentados  pelo livro são bem interessantes, principalmente em relação à  porcentagem de pessoas que tem realmente o poder sobre os Estados Unidos  (sendo que isso pode ser levado em conta para quase todos os outros  países capitalistas).
5% das famílias no topo da pirâmide são  mais ricas do que 81% das famílias situadas na base dessa pirâmide.  Temos assim 0,008% da população com um volume de bens equivalente ao da  metade mais pobre da população. (…) esses 0,008% podem, mediante a sua  posição de accionistas e as relações com a chefia das empresas, dominar  efectivamente o número restrito de grandes empresas que controlam, por  sua vez, a economia.
Esse poder de influência da  minoria sobre a maioria resulta no conceito de conspiração, que aqui não  é uma teoria e sim um fato. O livro diz que das mais de 400 mil  empresas americanas (isso em 1999), apenas 100 delas tem condições de  anunciar no meio televisivo.
A televisão como ferramenta alienante amiga da publicidade 
Os tempos de guerra  necessitavam das pessoas atitudes não produtivas para o capitalismo,  como economia de gastos, cooperativismo, etc. Isso foi necessário aos  Estados Unidos até o momento em que a guerra terminou e o país estava  entrando no que foi considerado o seu maior tempo de crescimento  econômico, criando assim o conceito de “sonho americano”.
Mas com o sonho americano  foi implementado e fortalecido? Pelo viés da publicidade, através da  televisão. Sim, a televisão foi a ferramenta que fez com que a  publicidade se tornasse um negócio multimilionário. Antes disso, a  publicidade era algo que não rendia como “deveria”.
Assim, as grandes  empresas — ou seja, a minoria — conseguiram atrair a população para a  compra de produtos novos e a troca dos mesmos. Os produtos são até hoje  marcados pela fácil descartabilidade, por seguir tendências bastante  passageiras e por estarem a cada dia que passa mais desatualizados. Isso  porque a publicidade e as indústrias vêem o pós-venda como algo nada  lucrativo.
Esse ciclo trabalho-consumo  estende-se até hoje e com muita força em países emergentes com o Brasil,  que estão só agora começando a viver o já falido sistema de sonho  americano. Falido porque é insustentável.
O ciclo não se resume a apenas isso, porém. Há ainda a criação de necessidades que até então não existiam.
Antes do fabrico de máquinas de barbear  eléctricas, secadores de cabelo ou facas eléctricas, também as pessoas  não sentiam qualquer necessidade de tais objectos, necessidade essa  implantada pela publicidade no espírito das pessoas.
O autor também deixa claro a posição alienada dos próprios profissionais da publicidade em relação ao modus operandi do capitalismo:
Para estes, a publicidade serve apenas  de resposta aos desejos das pessoas, prestando informação ao público  sobre como e onde obter a satisfação das suas necessidade. A publicidade  não passa de um serviço público, insistem eles.
Mas e como esse processo funciona?
O capitalismo é um sistema  fomentador da artificialidade. Tudo precisa ser explorado, manipulado,  alterado, modificado, processado, para assim tornar-se produtivo e  lucrativo.
Uma floresta é improdutiva  caso não seja explorada. Um animal é improdutivo se não for explorado. O  mesmo acontece com as pessoas.
Esse processo de alteração e  exploração resulta no que chamamos de valor agregado. O valor agregado é  o que faz com que queiramos comprar certos produtos. Esse valor  agregado é o fruto da artificialidade.
Não podemos pensar na  artificialidade como algo inerentemente capitalista, mas sim que foi  “sabiamente” utilizada pelo sistema, sendo praticamente sua base. A  teoria da conspiração apresentada por Mander mostra que a manipulação é  muito mais complexa e profunda do que pensamos, pois nós somos  manipulados, nosso estilo de vida é manipulado, para assim ser voltado  ao consumo.
É muito importante pensarmos  onde isso vai parar. O consumo capitalista desenfreado está tomando  proporções cada vez maiores, trazendo resultados nada bons para um  futuro a longo prazo. O próprio autor ressalta isso, dizendo que o  sistema capitalista não conseguirá vingar por muito tempo da forma que  ele segue até hoje. A dúvida que fica é se o capitalismo irá se adaptar a  um mundo de escassez e necessidades naturais ou se ele será vencido por  um sistema sustentável e de longo prazo. Isso só o futuro nos dirá.
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